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Outubro Rosa: pesquisa do INCA revela importância de a mulher conhecer as próprias mamas

06/10/2016 – Levantamento inédito do INCA com pacientes do Instituto revelou que as próprias mulheres identificam, na maior parte dos casos, sinais e sintomas do câncer de mama, incluindo doença em estágio inicial e intermediário, quando as chances de sobrevida são maiores. Os dados da pesquisa foram divulgados quinta-feira, 6, durante o lançamento da campanha nacional que marca o Outubro Rosa 2016: “Câncer de mama: vamos falar sobre isso?”, na sede do INCA, no Rio de Janeiro. A doença foi percebida pela primeira vez,em 66,2% dos casos, pelas próprias pacientes ao notarem alguma alteração na mama. O percentual de mulheres que identificou a doença por meio da mamografia ou de outro exame de imagem foi de 30,1%, enquanto em apenas 3,7% dos casos a suspeita inicial foi de um profissional de saúde. Ou seja, em dois terços do total, a própria mulher percebeu alterações na mama como possível sinal de um câncer de mama.

O estudo foi conduzido pela equipe do Núcleo de Pesquisa Epidemiológica da Divisão de Pesquisa Populacional do INCA com mulheres que procuraram pela primeira vez atendimento devido a um câncer de mama, entre junho de 2013 e outubro de 2014. Foram ouvidas 405 moradoras do Rio de Janeiro. “É importante que as mulheres notem as mensagens enviadas pelo próprio corpo para que a doença seja descoberta no início”, disse a chefe da Divisão de Pesquisa Populacional do INCA, a médica epidemiologista Liz Almeida.

Essa percepção é reforçada por outra pesquisa que investigou a sobrevida das pacientes de câncer de mama do Instituto considerando o estádio (etapa de desenvolvimento) da doença no momento do diagnóstico. Essa segunda pesquisa foi realizada com a base de dados do Registro Hospitalar de Câncer do HC III, unidade do INCA especializada no tratamento do câncer de mama.

Foram considerados os casos de 12.847 pacientes matriculadas de 2000 a 2009 e residentes na cidade do Rio de Janeiro. Os pesquisadores mensuraram os percentuais de pacientes que permaneceram vivas (sobrevida) até cinco anos após o diagnóstico. A sobrevida em cinco anos, de acordo com o estádio da doença no início do tratamento foi de: 88,3% (estádio I), 78,5% (estádio II), 43% (estádio III) e 7,9% (estádio IV).

Liz Ameida acentuou a importância não apenas do diagnóstico, mas também da prevenção. “São cerca de 58 mil casos de câncer de mama por ano”, disse ela. “Apenas com a manutenção do peso corporal adequado seria possível reduzir esse número em 10%”. Ela comparou o enfretamento do câncer de mama a uma corrida de revezamento: a mulher recebe as mensagens do corpo, corre para o médico, tem serviço de apoio diagnóstico e depois segue para o centro de tratamento. “O tempo é precioso”, frisou.

A sanitarista da Divisão de Detecção Precoce e Apoio à Organização de Redes do INCA, Mônica de Assis, lembrou que as Diretrizes para a Detecção do Câncer de Mama no Brasil foram atualizadas em 2015 e que mulheres e profissionais de saúde precisam conhecê-las. O documento centra-se, fundamentalmente, no rastreamento e no diagnóstico precoce. Segundo as novas diretrizes, a recomendação para a mamografia de rastreamento (quando são examinadas mulheres sem sinais nem sintomas da doença e sem nenhum outro fator de risco, por exemplo, histórico familiar), como política pública de saúde, é na faixa etária dos 50 aos 69 anos, quando o exame é mais efetivo.

As palestras de Liz Almeida e Mônica de Assis antecederam o debate “Câncer de mama: o que a mulher precisa saber?”, que trouxe temas polêmicos ao público. O diretor-executivo do Instituto Avon, Lírio Cipriani, disse que sua organização apoia iniciativas de controle do câncer de mama, mas há muitas informações diferentes circulando. “Nós levamos informações para nossas 1,5 milhão de revendedoras, que conversam com outras mulheres, mas muitas organizações de saúde não têm informações alinhadas, e eu fico assustado com isso”, confessou.

A presidente da Fundação Laço Rosa, Marcelle Medeiros, citou pesquisa do Datafolha dando conta que, no Rio de Janeiro, o tempo médio entre a suspeita e o fechamento de diagnóstico de câncer de mama leva nove meses. “O tempo é crucial para o tratamento. Falta política pública”, denunciou.

“Acho que é preciso ter muito cuidado ao colocar sobre a mulher a responsabilidade de descobrir um câncer”, ponderou Lílian Marinho, representante da Rede Feminista de Direitos Sexuais e Reprodutivos. Para ela, a maioria das mulheres não consegue lidar com tantas informações. “Também é preciso discutir a questão do acesso e das mulheres que não estão sendo assistidas.” Para Graciela Pagliaro, médica da Atenção Básica e integrante da Rede de Educação Popular em Saúde, as dificuldades de acesso refletem as próprias desigualdades regionais e inter-regionais. Ela também concorda que há o risco de o excesso de informação sobre o câncer de mama mais confundir do que esclarecer: “Ainda há profissionais que recomendam o autoexame”.

Essa situação com o profissional preocupa a médica do Serviço de Mastologia do Hospital do Câncer III do INCA Elizete Martins. Ela chamou atenção para um dado da pesquisa sobre a primeira percepção do câncer de mama (o de que apenas 3,7% das mulheres entrevistadas tenham sido alertadas em um exame clínico na detecção de suspeitas). “Esse dado é impressionante”, disse, indicando que o profissional também precisa de capacitação. Mais do que isso: como a questão da informação, da escolaridade e do nível de renda são variáveis relevantes no acesso ao tratamento e no cuidado de si, a médica sugere que, por exemplo, ações como corridas contra o câncer de mama “saiam do Aterro do Flamengo [na nobre Zona Sul carioca] e vão para a Pavuna [no subúrbio da cidade].” Por isso mesmo, os palestrantes defenderam a necessidade de fortalecimento do SUS.

O debate foi mediado pela jornalista Flávia Junqueira, do jornal Extra, que promoveu o debate junto com o INCA. A diretora-geral do Instituto, Ana Cristina Pinho, fez a abertura do evento. Recém-empossada, ela ressaltou a importância da discussão sobre o câncer de mama e disse ser simbólico que em pleno Outubro Rosa aquela tenha sido a primeira cerimônia oficial, para fora dos muros do Instituto, da primeira mulher a ocupar a Direção-Geral do INCA. “Defendemos aqui que a mulher seja senhora e dona absoluta de seu corpo”, enfatizou.

Fonte: INCA


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